Primeiro partido feminista do Brasil

Conheça a história do primeiro partido político feminista do Brasil, fundado há 110 anos.

 

Partido Republicano Feminino foi fundado pela sufragista Leolinda de Figueiredo Daltro em dezembro de 1910 no Rio de Janeiro e tinha como objetivo mobilizar as mulheres na luta pelo direito ao voto.

 

Leolinda de Figueiredo Daltro foi perseguida e apelidada de “mulher do diabo” por defender os direitos das mulheres e dos povos indígenas.

 

A luta das mulheres pelo direito ao voto no Brasil Antecede a proclamação da República. Mas é no início de século XX que a mobilização ganha um impulso maior e se organiza de forma mais efetiva. Um dos marcos desta história foi a fundação, em dezembro de 1910, do Partido Republicano Feminino.

 

O primeiro partido feminista do país foi criado no Rio de Janeiro pela sufragista Leolinda de Figueiredo Daltro (1860-1935). A iniciativa de criar a agremiação partiu da revolta da ativista, que requereu o alistamento eleitoral naquele ano, mas teve seu pedido negado. O objetivo da organização era o de mobilizar mais mulheres na luta pelo direito ao voto.

 

Leolinda questionava a ausência do sufrágio feminino na Constituição de 1891. Durante a Constituinte de 1890, a discussão sobre o tema foi intensa, mas todas as propostas de estender o direito ao voto às mulheres no texto legislativo foram derrotadas, sob a justificativa de que com ele, seria decretado o fim da “famílias brasileira”.

 

Leolinda era uma mulher desquitada, que criou seus cinco filhos separada do marido e muito ativa politicamente. Por sua atuação, foi perseguida e apelidada de “mulher do diabo”. Nascida na Bahia, ela mudou-se para o Rio de Janeiro onde morou a maior parte da vida.

 

Antes de se dedicar a luta feminista, Leolinda abraçou a causa indígena. Seu objetivo era o de incorporar os índios brasileiros à sociedade pela via da educação, sobretudo sem conotação religiosa. Em 1896, iniciou uma empreitada ambiciosa e percorreu o interior do país promovendo a alfabetização em aldeias indígenas. Em 1910, mesmo ano em que fundou o Partido Republicano Feminino, ela dirigia a Escola de Ciencias, Artes e Profissões Orsina da Fonseca, localizada no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro.

 

Em dezembro daquele ano, Leolinda liderou em grupo de 27 mulheres, entre elas professoras, escritoras e donas de casa, que se reuniram na então capital federal para assinar a ata da fundação do partido. O grupo buscava representar as mulheres brasileiras promovendo a cooperação entre elas na defesa das causas relativas ao progresso do país e de sua cidadania. Assim, o programa do partido destacava a luta pelo sufrágio feminino como primeiro passo para a plena incorporação das mulheres à esfera pública.

 

Inspirado no movimento sufragista inglês, o PRF organizava passeatas para reivindicar o direito ao voto e condições dignas de trabalho e educação para as mulheres brasileiras. O partido de tornou a primeira organização a liderar a luta pelo sufrágio feminino no Brasil. Posteriormente, foi substituído pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada por Bertha Lutz em 1922.

 

Por mais de uma década, Leolinda e suas companheiras de militância – entre elas a poeta Gilka Machado, que foi a primeira secretária do partido – ocuparam a cena política carioca colocando em evidência a luta pelo sufrágio feminino e pela cidadania das mulheres. Seu verbete no “Dicionário das Mulheres do Brasil” (2000) descreve que fazia parte de estratégia Leolinda comparecer a todos os eventos que pudessem ter repercussão na imprensa. O movimento causou barulho e teve grande repercussão, dividindo opiniões a cerca do voto feminino.

 

Em 1919, Leolinda se lançou candidata à Intendência Municipal do Distrito Federal, mas não conseguiu formalizar sua candidatura. No decorrer dos anos 1920, foi aos poucos se afastando da cena política, passando a se dedicar exclusivamente a sua atuação como educadora. Logo após as mulheres terem finalmente conquistado o direito ao voto, em 1932, Leolinda disse que morreria feliz, pois vira vitoriosa sua luta pela emancipação política das mulheres brasileiras. Morreu três anos depois, em 1935, num acidente de carro.

Fonte: O Globo

Imagem: Reprodução