Ações do Tribunal
por Itaney Campos
Não te apoquentes, amigo,
não te sintas esquecido,
não te consideres excluído!
Ainda que não te confiram comendas, diplomas em letras góticas,
medalha prateada do mérito,
título raro honorífico;
Ainda que nos discursos
não proclamem o teu nome singelo, fácil de pronunciar;
E em certos momentos te vejas
pequenino, obscuro, formiguinha a debater-se
nas teias do anonimato.
Ainda que baixinho, frente ao espelho, sozinho, tu te invoques
humildemente « barnabé »!
Saiba que de tuas mãos
ergue-se a engenharia útil da vida e do humano cotidiano.
Ao contrário do que dizem os desvairados,
a felicidade reside na rotina,
na capacidade de dizer bom dia,
na aptidão de retribuir « obrigado ».
A vida se tece dos pequenos gestos
e só nos é possível prosseguir porque há os que, generosamente,
desatam os pequenos nós, sabem abrir os arquivos, recuperar a memória
que segue a esvair-se no tempo.
Os grandes herois servem para o cinema,
para os quadrinhos e os romances,
do variegado mercado das mentiras.
No curso dos dias,
são as insignificantes façanhas
que nos libertam a todos
e dão sentido à nossa vida.
São os atos menores,
como o regar das plantas,
que fazem florescer os frutos e frutificar as raízes.
A capacidade de sorrir é que desmonta
a armadura trágica da existência.
Os que permanecem, pacientes,
rentes à mesa de trabalho,
os que apontam os caminhos, e respondem aos chamados dos telefones;
Os que se vestem de calma e placidez,
anotam os nomes e usuários
e distribuem senhas,
esses é que fazem mover
os mecanismos do mundo.
E ainda que o povo não tenha olhos para ver,
há uma entranhada dignidade
na grandeza dos que,
dia após dia,
fazem mover
as engrenagens da vida.
A vida poderosa e implacável latindo pelas cidades.
Se ninguém proclama a verdade,
Eu, poeta sem medo, repito pelos meandros do mundo:
Há um heroísmo intrínseco
nos atos do funcionário público,
Servidor da humanidade
e organizador dos dias!
Há uma resistência de Sísifo,
naquele que faz ranger a pesada roldana do Estado, removendo-a dos ombros
fatigados
de nossa insípida realidade!
Há uma tocha de fraternidade
ardendo regularmente no peito do funcionário público!
Eu - poeta da verdade -
declaro o funcionário público "benfeitor geral da humanidade!"
Goiânia, pós-Covid, outubro de 2022.