Verba Legis 2022

Ações do Tribunal

 

ODE AO SERVIDOR PÚBLICO

por Itaney Campos

 

Não te apoquentes, amigo,

não te sintas esquecido,

não te consideres excluído!



Ainda que não te confiram comendas, diplomas em letras góticas,

medalha prateada do mérito,

título raro honorífico;

Ainda que nos discursos

não proclamem o teu nome singelo, fácil de pronunciar;

E em certos momentos te vejas

pequenino, obscuro, formiguinha a debater-se

nas teias do anonimato.



Ainda que baixinho, frente ao espelho, sozinho, tu te invoques

humildemente « barnabé »!

Saiba que de tuas mãos

ergue-se a engenharia útil da vida e do humano cotidiano.



Ao contrário do que dizem os desvairados,

a felicidade reside na rotina,

na capacidade de dizer bom dia,

na aptidão de retribuir « obrigado ».



A vida se tece dos pequenos gestos

e só nos é possível prosseguir porque há os que, generosamente,

desatam os pequenos nós, sabem abrir os arquivos, recuperar a memória

que segue a esvair-se no tempo.



Os grandes herois servem para o cinema,

para os quadrinhos e os romances,

do variegado mercado das mentiras.



No curso dos dias,

são as insignificantes façanhas

que nos libertam a todos

e dão sentido à nossa vida.



São os atos menores,

como o regar das plantas,

que fazem florescer os frutos e frutificar as raízes.



A capacidade de sorrir é que desmonta

a armadura trágica da existência.



Os que permanecem, pacientes,

rentes à mesa de trabalho,

os que apontam os caminhos, e respondem aos chamados dos telefones;



Os que se vestem de calma e placidez,

anotam os nomes e usuários

e distribuem senhas,

esses é que fazem mover

os mecanismos do mundo.



E ainda que o povo não tenha olhos para ver,

há uma entranhada dignidade

na grandeza dos que,

dia após dia,

fazem mover

as engrenagens da vida.



A vida poderosa e implacável latindo pelas cidades.

Se ninguém proclama a verdade,

Eu, poeta sem medo, repito pelos meandros do mundo:

Há um heroísmo intrínseco

nos atos do funcionário público,

Servidor da humanidade

e organizador dos dias!



Há uma resistência de Sísifo,

naquele que faz ranger a pesada roldana do Estado, removendo-a dos ombros

fatigados

de nossa insípida realidade!



Há uma tocha de fraternidade

ardendo regularmente no peito do funcionário público!

Eu - poeta da verdade -

declaro o funcionário público "benfeitor geral da humanidade!"




Goiânia, pós-Covid, outubro de 2022.