Verba Legis 2023

Artigos

 

A mídia social como meio de influenciação do engajamento político dos jovens

por Ingrid Paula Gonzaga e Castro Nota 01 e Yasmin Ferreira Cardozo Souza Nota 02

 

 Introdução

A mídia social tornou-se o centro das influências juvenis, visto que a sociedade hodierna tem se desenvolvido sob uma Era Digital. Com o fornecimento de plataformas virtuais, diversas ações obtiveram um maior alcance social, como o compartilhamento de opiniões, a democratização de informações, a facilidade nas elaborações de debates e as oportunidades civis, incluindo as temáticas políticas e eleitorais.

Analisando o ciberespaço, ou o espaço de comunicação virtual, percebe-se que a extensão da internet gerou a criação de uma nova cultura social, qual seja: a cibercultura. Ela, apesar de primordialmente ter sido aderida pelo público jovem, se expandiu ligeiramente pelas demais faixas etárias. Diante desse movimento significativo de expansão de uma sociedade digitalizada, a primeira conclusão a que se chega é que indubitavelmente as mídias sociais são forças motrizes para a mudança nas formas de comunicação e socialização” Nota 03.

Seguindo por este viés, pode-se exemplificar que as mídias sociais possibilitaram para aqueles que estão inseridos dentro de suas plataformas uma abrangência de participação crítica em assuntos de interesse cívico, como no caso, a interação juvenil na política. Sendo assim, no decorrer deste artigo analisaremos como a mídia social está moldando e influenciando o engajamento político dos jovens.

Segundo Marques” Nota 04, a internet robustece os debates e a democratização das informações, colaborando com a formação de liames entre desconhecidos. Desse modo, reconhece-se que as mídias sociais e suas ferramentas proporcionam aos jovens um ambiente holístico e coletivo, no qual podem compartilhar seus vieses de pensamento com outros usuários, formando, assim, comunidades fixadas sobre embasamentos políticos em comum.

Ainda, destaca o referido autor Nota 05 que a esfera de conhecimento virtual não se opõe às arenas discursivas físicas, mas sim as complementam em busca do engajamento cívico, definindo uma conversão de esfera pública digital, como uma conversão civil.

Nesse viés, mostra-se notório que o consumo diverso de informações políticas dentro destas plataformas - onde os jovens podem acompanhar comunidades virtuais, seguir perfis, páginas ou canais que enfatizem a temática eleitoral e civil - além de possibilitar a associação em prol de mobilizações que os conduzam ao aprimoramento de ações políticas, ajudam a difusão de ideias que podem levar à evolução política e social.

Visto que a nova cibercultura contribuiu com as disponibilizações instantâneas de conteúdos que influenciam na formação de opiniões críticas, no fortalecimento de consciência sobre as problemáticas civis e ainda contribuiu para que os jovens se sentissem parte do processo de inserção no painel político, passaremos, doravante, a analisar o poder da juventude na formação política atual.

 

1. A importância do engajamento político juvenil

É cediço que quando a juventude adquire conhecimento e se desenvolve plenamente, ela se capacita para participar ativamente da democracia, aproximando-se cada vez mais da possibilidade de moldar seu próprio futuro e influenciar as decisões que verdadeiramente a conduzirão ao merecido papel de protagonismo.

Destaca Aristóteles Nota 06 que o homem é um animal que possui a sua natureza voltada para o social e estabelece o ápice de sua vida no momento em que está inserido na política, ou seja, segundo o filósofo a sociedade, representada por seus indivíduos de todos os intervalos estáticos, carece do contato político, dado que necessitam ter o acesso à virtude advinda do poder de justiça e cidadania.

Partindo dessa premissa, a importância da participação dos jovens na política foi abordada pelo Tribunal Superior Eleitoral Nota 07, ao publicar em seu site que “a participação dos jovens na vida pública é um dos fatores que contribuem para fortalecer a democracia e aumentar a riqueza dos debates sobre os desafios e problemas sociais”.

Destaca-se a importância de engajar a juventude perante o exercício da civilidade, em virtude de que a sua inserção perante as temáticas sociais, gera uma oxigenação no meio político, bem como contribui para a construção do futuro pautado na informação, comunicação e desenvolvimento cívico.

Aponta Costa Nota 08 que o futuro da política, de forma geral, tende a caminhar para um lado de sombrio se persistir sem a participação dos jovens. Pensa-se, por esta afirmação, que a necessidade juvenil em âmbito político ultrapassa o mero convite e se perfaz uma condição de prosseguimento da cidadania. Os jovens, como dito, representam grande parte do poder decisório disponível na sociedade, motivo pelo qual devem receber e ser apresentados o quanto antes aos seus papéis cívicos e políticos, para que restem inseridos na arena central da construção do futuro coletivo.

 

2. As representações políticas advindas do virtual

As representações sociais e políticas, segundo Jodelet Nota 09, sinalizam fenômenos de pertencimento social dos indivíduos, visto que o ser humano é um produto da realidade e do espaço que vive. Assim sendo, pode-se compreender que a sensação de pertencimento de uma determinada pessoa guarda íntima relação com a realidade vivida por ela. Somado a isso, tem-se também que os seus posicionamentos defendidos, bem como suas ações executadas também advém do ambiente em que os indivíduos se encontram inseridos.

Abrangendo as experiências juvenis, as representações digitais ganham destaque, uma vez que elas embasam a maioria das relações interpessoais desta categoria. Nela predomina o ciberespaço, logo, considera-se que este ambiente virtual possui grande influência nos atos e opiniões dos jovens. Seguindo o pensamento de Durkheim Nota 10, tem-se que as representações contínuas na vida dos jovens criam um aglomerado de informações, que os guiam nas decisões e ações realizadas perante a sociedade, integrando, ainda, os engajamentos civis desses.

Não obstante a posição de serem políticos assumida pelos jovens, eles possuem a tendência contemporânea de estarem mais ligados ao mundo digital e aos seus movimentos, incluindo as sobre teses cívicas inseridas neste local. Utilizando o pensamento de Levy Nota 11, entende-se que a questão principal deste novo modo de inserção política não é sobre a concordância ou discordância, apenas deve-se compreender que esta nova forma de comunicação e representação e não é apenas uma escolha ou um fenômeno passageiro, e sim a nova solução, a dinâmica que veio para se tornar uma das bases fixas perante passos da nossa juventude.

Diante disso, quando as mídias e suas plataformas incluem assuntos civis, políticos e sociais em suas comunidades, não se deve esperar que o jovem não se interesse, ao contrário. Quando um assunto é abordado dentro do seu âmbito de segurança, a tendência é de que haja uma maior disposição para compreender e discutir determinadas teses.

Deve-se apoiar o método representativo virtual de inserção política/eleitoral, pois, assim como dito por Callon Nota 12, “a inovação não destrói a tradição, ela se nutre dela, e se enriquece com ela.”, ou seja, o novo não desqualifica o passado, os jovens conhecem as suas raízes, mas se sentem mais acolhidos e confortáveis no seu meio de costume, no seu atual ciberespaço.

Por essa razão, entende-se que a juventude não deixa de se interessar pelos meios modernos de inserção política, mas tendem a ficar mais propensos a iniciarem os seus caminhos cívicos de uma forma menos resistida e mais convidativa.

De acordo com Moscovici Nota 13, uma representação não se faz completamente para uma situação de determinada sociedade, pelo contrário, ela aponta como está se definindo uma nova comunidade social. Dessa forma, mesmo que o processo de criação de uma nova dinâmica social seja lento e delicado, deve-se compreender a capacidade de evolução que um novo meio pode trazer ao desenvolvimento da nossa juventude no meio político.

Nessa esteira, observar a mudança das representações e realocações juvenis na nossa sociedade é entender que a proximidade desses no nosso sistema político é um crescimento diário, exige-se paciência para que esses se sintam confiantes a se inserirem de vez aos papéis civis que os aguardam, contudo, a sensação de observar um jovem se interessando pelos saberes políticos e buscando dar voz ao seu posicionamento, é inegável e necessário.

Por nossas relações virtuais terem alcançado a dinâmicas da inserção sociopolítica dos indivíduos, faz-se por nossa parte a condição de abraçar cada vez mais esse novo sistema, a fim de agregar os jovens no seu papel de cidadão. Inclui-se também, a indispensabilidade de unir os representantes cívicos ao espaço virtual, com o intuito de alavancar os interesses em comum em prol da evolução social.

Podemos, portanto, utilizar como exemplo dessa união de objetivos em âmbito virtual, a criação de perfis em plataformas para redigir propostas políticas, as oportunidades de encontros virtuais e debates civis com as comunidades juvenis, os engajamentos em formatos de convites a participação crítica na sociedade e o investimento do público político/eleitoral nas mídias e suas plataformas.

À vista disso, pode-se compreender a eficácia dessa união entre representantes e jovens no meio virtual através das informações fornecidas por Oliveira Nota 14, onde apresenta que o Partido Político PSOL (partido socialismo e liberdade) obteve na campanha do candidato Guilherme Boulos, com a utilização de plataformas como Instagram, Tik Tok, Facebook e WhatsApp, uma liderança de votos entre jovens de 16 a 24 anos.

Sendo assim, fica notório que as representações virtuais advindas da parcela que já inserida no meio político, atinge e engaja a juventude que ali se encontra, pois esses se sentem confortáveis, confiantes e decididos a se unirem em prol de uma comunidade, visando o exercício da sua cidadania, principalmente voltada as ações políticas e socais.

 

Conclusão

Este artigo teve como objetivo analisar como as mídias sociais podem engajar a participação juvenil no âmbito político, observando a importância desses no meio estadista e entendendo as representações fornecidas virtualmente.

Fora observado que os jovens contemporâneos passaram por mudanças de espaço, estando incluídos atualmente no que se chamam de Ciberespaço, ou, seguindo a conceituação de Levy Nota 15, um novo universo no meio digital, que fornece encontros, comunicação, abertura de fronteiras mundiais e muita aventura.

Desse modo, compreende-se que a juventude se encontra em um ambiente sem fronteiras, com muitas oportunidades e conhecimentos distribuídos, além de estarem inseridos em um local que os fornecem familiaridade, conforto e ensejos de criticidade.

O espaço virtual, portanto, se tornou o meio onde a atual juventude se movimenta, se engaja e se posiciona em diversas temáticas, incluindo nas de ações políticas/sociais. Por essa perspectiva, entende-se que se depositarmos representatividade, oportunidade e espaço de fala do âmbito político dentro dessas plataformas, o engajamento dos jovens se expandirá sem um limite previsível, pois essa visão estará disponibilizada nos seus meios de confiança e representará uma forma de abrangência de ideias e valores que uma comunidade apoiará, ou seja, um ambiente que exerce o conforto necessários e o espaço ideal de representação juvenil na política e cidadania.

Tal constatação leva à reflexão de que a parcela dos jovens já inserida no meio político possui a tendência de se voltar cada vez mais a sua atenção aos novos meios de percepção e vivência da política, procedendo com a sua aproximação de suas devidas responsabilidades de cidadania e oportunizando posicionamento e criticidade no âmbito político.

Dessa forma, percebe-se que para persistir no engajamento político vindo da juventude, deve-se daí iniciar uma maior atenção aos ambientes virtuais, não abandonando os meios tradicionais de manifestação política e cívica, mas sim abrangendo todos os lados disponíveis para a captação dos seus interesses, visto que este esforço é voltado para a captação da presença do futuro cidadão cívico e político da nossa sociedade.

 

Referências

 

Nota 01 Pós-Doutora em Democracia e Direitos Humanos pelo Ius Gentium Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos da Universidade de Coimbra - Portugal, Doutora em Função Social do Direito Constitucional pela FADISP/UNIALFA, Mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (bolsista CAPES), Servidora do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Professora em especializações na área de Direito Público e Privado, Instrutora em técnicas autocompositivas dos cursos do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, membro do Corpo Editorial de Avaliadores da Revista Universitária Jurídica do Centro Universitário Toledo Araçatuba - UNITOLEDO e da Revista Eletrônica de Direito do Centro Universitário Newton Paiva; autora e coautora de obras jurídicas; Tutora em EaD da Escola Judicial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás - EJUG - habilitada pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados — ENFAM. E-mail: ipgcastro@tjgo.jus.br.

Nota 02 Graduanda do 3º período do curso de Direito, pela Faculdade Unida de Campinas — FacUnicamps. E-mail: yasmincardozo.81111@gmail.com.

Nota 03 LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

Nota 04 MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida. Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil. Opinião Pública, Campinas, vol. 12, nº 1, Abril/Maio, pp, 164-187, 2006.

Nota 05 ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2003.

Nota 06 TSE — Tribunal Superior Eleitoral. “TSE lança campanha para incentivar maior participação dos jovens na política”. Comunicação TSE [22/06/2020]. Disponível em: <https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Junho/tse-lanca-campanha-paraincentivarmaior- participação-dos-jovens-na-politica>.

Nota 07 COSTA, M. “Sem os jovens, futuro da política é sombrio”. Estadão [06/06/2018]. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/sem-os-jovensfuturo-dá-politica-esombrio/>

Nota 08 JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: D. Jodelet (org.) As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Ed UERJ, pp, 17-44, 2001.

Nota 09 DURKHEIM, É. L'Éducation Morale. Paris: PUF, 1925. Quadrige, 2012.

Nota 10 Levy, P. (2010). Cibercultura. Tradução: Carlos Irinei da Costa. São Paulo, SP: Ed. 34.

Nota 11 Callon, M. (2013). Por uma nova abordagem da ciência, da inovação e do mercado: o papel das redes sociotécnicas In A. Parente (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina. pp.64-79.

Nota 12 Moscovici, S. (2012/1961). A psicanálise sua imagem e seu público. Tradução: Sonia Fuhrmann — Petrópolis: Vozes.

Nota 13 OLIVEIRA, M. “Foco nas redes sociais leva Boulos a liderar entre jovens de 16 a 24 anos”. UOL [24/10/2020]. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/10/24/foco-nas-redes-sociais-faz-bouloscrescerentre- jovens-de-16-a-24-anos.htm>.

Nota 14 Lévy, P. (1998). A inteligência coletiva por uma antropologia do ciberespaço (L. P. Rouanet, Trad.). São Paulo: Loyola. (Trabalho original publicado em 1997).