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Revista Jurídica Verba Legis

Verba Legis 2015

sumário

Enfoque Cultural

O Crime do Zé Pretinho e o Galo Que Não Cantou

por Walter Carlos Lemes, em Bola de Meia

 

 

Bela Vista de Goiás, no ano de 1963, mais precisamente no mês de agosto, vivenciou um crime que deixou toda a sua população estarrecida e tremendamente apavorada. E não era para menos, pois Zé Pretinho matou sua sogra e seu próprio filho, a golpes de facão. O crime foi tão insidioso e cruel, pois a criança tinha apenas 9 anos. A cabeça desta infeliz vítima infantil foi dividida em quatro partes. A sogra de Zé Pretinho foi literalmente degolada a golpes de facão em sua própria residência, Rua Cristóvão Colombo, na confluência com a Rua Camilo de Brito, esta, naquela época chamada de Rua do Rego, pois existia um Rego d’água, que vinha da Chácara Ponte de Terra, hoje de propriedade de meu irmão Agostinho, e percorria toda a extensão desta Rua servindo a todos os seus moradores, notadamente os que ficavam do lado esquerdo, no sentido leste-oeste, já que o rego desembocava no córrego Suçuapara.

Zé Pretinho foragiu. A polícia e alguns destemidos belavistenses sairam a sua procura. Eu não estava entre os audaciosos, não por falta de coragem. Isso não! Eu tinha apenas quinze anos, felizmente, porque, do contrário, teria que dar um bom motivo por não participar da aludida caçada humana.

O crime de Zé Pretinho deixou toda a população de Bela Vista em polvorosa. Ninguém dormia. E, se alguém cochilava, era de luz acesa, pois havia comentários de que Zé Pretinho estava por ali mesmo na cidade. Ninguém queria ser sua próxima vítima, principalmente se teve a oportunidade de ver de perto o que restou de sua sogra e de seu filho. Os corpos de duas pessoas absolutamente indefesas espalhados em pedaços pela cozinha e sala da casa amarela e do alpendre, que ficava ao lado do rego dágua.

O sangue coagulado em quantidade assustadora dava um colorido fantasmagórico ao ambiente, que a partir daquele momento, passou a ser protegido pela polícia.

E é aqui que o Zé Lucindo retorna aos fatos. Não teve ele nenhuma participação no fatídico evento criminoso. Absolutamente. No limiar do sentimento humano entre o medo e o raciocínio lógico, o bom senso sofre variação conjuntural insólita. Tudo parece ser nada e nada parece ser tudo.

É verdade. Zé Lucindo, a exemplo de todo o belavistense passou noites e noites insones. E na primeira delas. A pior, segundo o mesmo disse. O medo era quase de bater queixo. Enquanto sua esposa Fia, embora com medo imenso, conseguiu adormecer, lá pelas três e meia da madrugada. Zé Lucindo não. Sentado na cama, com a luz acesa e uma espigarda calibre 12, de dois canos, carregada no colo. A mão direita no gatilho e a esquerda, segurava o cano longo e felipado da arma aludida.

De repente Zé Lucindo escutou um barulho bastante forte, - pá, pá, pá - de alguma coisa batendo bem junto à sua janela de madeira já antiga, dessas que tambem tinha grade de vidro e madeira por fora. Antes que o barulho PA PA PA, se repetisse pela segunda vez, Zé Lucindo no lampejo de rapidez, ergueu sua arma apontando o cano para o lado de onde vinha o barulho, com a janela fechada e tudo e sapecou um tiro duplo POOOU. O seu quarto encheu de fumaça, quase lhe impossibilitando de ver sua própria esposa, que quase morre de susto.

- Zéééé, o que foi???

- Acho que matei o Zé Pretinho!!!!. Olha só o buraco na janela!

Um pedaço razoável da janela, numa dimensão circular de mais ou menos, vinte centímetros desintegrou-se totalmente. O tiro duplo ecoou por alguns segundos pela beira dos córregos Ponte de Pedra e Suçuapara. Ninguém foi lá fora ver o acontecido. Muitos cochichos e murmúrios apenas dos seus familiares. O medo era tanto. Apenas Zé Lucindo ficou meditando; será que matei o Zé Pretinho, porque não escuto mais nada!

E se for ele e eu não tiver matado? Tô ferrado! Ele pode estar me esperando por aí. Um medo redobrado assomou-lhe a mente, por mais algumas horas. Recarregou a espingarda e amanheceu com ela no colo recostado na cabeceira da cama. Sua esposa Fia, apenas rezava até amanhecer o dia.

Quando o dia clareou, meio ressabiado, foi lá fora ver a sua proeza. Seu galo de estimação não chegou a cantar. Só bateu asas. Foi abatido por uma descarga dupla de espingarda. Prá dizer a verdade, ficou um monte de penas no chão!

Quanto ao Zé Pretinho, foi caçado e impiedosamente abatido à beira de um córrego, por vários tiros. Seu corpo com várias perfurações de balas, foi exposto na Cadeia Pública Municipal de Bela Vista de Goiás, chamando a atenção de curiosos.

…ooo…